quinta-feira, 17 de junho de 2010

Lugares de Beleza!


Pavel Evdokìmov, teólogo e pensador russo, escreveu um dia: “Nós comunicamos com a beleza de uma paisagem, de um rosto, ou de uma poesia como comunicamos com um amigo, e experimentamos uma estranha sintonia com uma realidade que parece ser a pátria da nossa alma, perdida e reencontrada”.Aquilo que queremos expressar de mais profundo não cabe, muitas vezes, em simples palavras. Ocorrem-nos surpresas e encontros que nos revelam paisagens que mostram exactamente aquilo que sentimos. Vivemos entre espaços perdidos, lugares de ninguém, onde os sonhos teimam em nos arrastar para um destino feliz.A beleza é este espaço de promessa onde a vida aparece como qualquer coisa já conseguida. Por um momento, temos a oportunidade de gritar a plenos pulmões que tudo vale a pena. Isto é um privilégio, para quem puder estar atento à eternidade que nos tocou improvisamente. Um grande artista põe em papel, tela e cor um rasgo de sentimento e intuição que ultrapassa os limites do que acontece num momento preciso. Fomos transportados para além de nós próprios. A genialidade é esta capacidade de abrir uma outra dimensão da vida, de sermos radicalmente optimistas, acreditarmos no poder das nossas acções e da nossa bondade.


Na minha vida, tive já estes momentos de encontro e esperança a partir da beleza?


Um mês depois da visita de Bento XVI a Portugal, certamente todos recordam uma das suas expressões mais significativas, dita ao mundo da cultura no Centro Cultural de Belém: “Fazei das vossas vidas lugares de beleza”. O que mais fica destas palavras é um desafio enorme a sermos também artistas e geniais no modo como estamos na vida. É imenso pensar que podemos ter, na vida concreta, um espaço onde alguém pode encontrar esperança e energia para o futuro. O nosso exemplo atinge as pessoas que estão à nossa volta.É uma outra forma de amar, isto é, fazer da nossa vida um serviço à beleza. Pessoalmente, dá-me muita esperança conhecer muitas pessoas que comunicam beleza na simplicidade do que são. Não é por acaso que, no seu discurso, o Papa une a verdade à beleza. Na medida em que somos aquilo que somos, sem comparações e máscaras, aparecemos como um espaço onde os outros podem caminhar com segurança, sentir-se aceites, valiosos no que são. A verdade manifesta um olhar transparente sobre a vida. Como se fosse retirar um véu que mostra verdadeiramente quem somos, beleza e transformação.


Na minha vida, consigo unir a verdade e a beleza?


Sendo aquilo que sou, crio espaços de esperança e optimismo à minha volta?

António Valério, Sj

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